1.De que modo John Roger Searle, continuador das reflex es teóricas de Austin, distancia-se tanto de Saussure quanto de Chomsky?
Searle distancia-se de Saussure ao sustentar que a enunciaç o está sujeita a regras convencionais e de Chomsky ao centralizar a abordagem na comunicaç o.
2. Qual é para Searle a unidade mínima de comunicaç o?
Diferentemente de Benveniste, que elege a frase como a unidade mínima do discurso, Searle situa a produç o dessa como a unidade mínima da comunicaç o lingüística, ou seja, o ato de fala.
3. O que é para Searle falar uma língua?
É realizar atos de fala conformando-os a regras constitutivas.
4. Que regras s o colocadas em evid ncia sobre o uso dos marcadores da força ilocucionária?
Searle ordena-as em quatro rubricas: regras das condiç es sobre o conteúdo proposicional (uma promessa consiste na projeç o de um ato futuro do locutor); das condiç es preparatórias(no caso da ordem, a regra requer que o ouvinte seja capaz de executar) ; das condiç es de sinceridade (no caso da asserç o, que o locutor acredite n o que afirma) e regra essencial (liga o fato bruto, ato de prometer, ao fato institucional que é que é a obrigaç o contraída).
5. Quais problemas s o tratados por Searle na obra "Expression and Meaning"?
Searle focalizará problemas da filosofia da linguagem, a saber: atos de fala indiretos, o discurso ficcional e o uso metafórico da linguagem.
6.Como Searle explica os atos indiretos?
Searle invocará mecanismos justificados de maneira independente, tais como os princípios de cooperaç o de Grice, a teoria dos atos de fala e a racionalidade presumida dos ouvintes. Assim, o convidado a quem dizemos: "Pode passar-me o sal?", raciocina da seguinte forma: "Meu vizinho de mesa n o está interessado em minhas aptid es para a preens o como poderia estar um ortopedista. Por outro lado, sup e que ele coopere nesse empreendimento comum que é uma conversaç o. A capacidade prévia de realizar uma aç o é uma condiç o prévia para a formulaç o do pedido. De tudo isso decorre que "Pode passar-me o sal?" deve ser tomado como um pedido educado e n o como uma pergunta."
7. O que é o discurso ficcional para Searle?
É um jogo de linguagem separado, mas n o um tipo de ato ilocucionário. É um caso parasitário em relaç o aos outros usos. O que confere a uma obra o estatuto de ficç o é um posicionamento do autor que, em vez de fazer asserç es, atém-se a pretender faz -las.
8. Quais s o os princípios colocados em evid ncia para explicar as metáforas?
S o os princípios gerais de comunicaç o. Diante da frase "Sally é uma pedra de gelo". Este enunciado é defeituoso se tomado literalmente. Ora, a máxima de cooperaç o nos autoriza a presumir que o locutor quis dizer algo sensato. Procuramos ent o outra pista.Mas s o inumeráveis as interpretaç es. Nesse ponto, Searle evidencia princípios de comunicaç o que permitem recortar em um conjunto de interpretaç es, um subconjunto de dimens o aceitável: "Quando voc escuta ‘S é P ’ e ‘S’ n o pode ser tomado em seu sentido literal, procure maneiras pelas quais S (Sally, no exemplo) poderia ser P (uma pedra de gelo).
9.Como Searle entende a noç o de sentido literal?
A reflex o sobre atos de fala indiretos, obras de ficç o, metáfora e ironia, pressup e a noç o de sentido literal. Searle rejeita a vis o corrente de contexto zero e demonstra que para um grande número de frases n o existe contexto zero, contexto nulo. Mesmo para interpretar uma frase t o trivial como "o gato está sobre o tapete", temos que nos apoiar num conjunto de pressuposiç es e de informaç es prévias concernentes ao contexto em que a frase foi enunciada de maneira apropriada. Temos, por exemplo,que excluir a situaç o em que o gato flutuaria no espaço, situaç o em que n o poderíamos opor "sobre o tapete" e "sob o tapete."
10. Quantos e quais s o os tipos de atos ilocucionários inventariados por Searle?
Searle elencou cinco tipos:
- assertivos - "Jo o anda."
- diretivos - "Ande."
- compromissivos - "Prometo vir."
- expressivos - "Sinto muito sua partida."
- declarativos – "O senhor é culpado."
11. Em que base repousa o conceito de "direç o de ajustamento"?
Para que uma asserç o seja "satisfeita", o enunciado precisa descrever a realidade e, portanto, conformar-se a esta realidade. Para que uma ordem seja satisfeita, ou seja, obedecida, é preciso que a realidade conforme-se, ajustes-se, frase. Há, portanto, 04 possíveis direç es de ajustamento: PALAVRA-MUNDO(assertivos); MUNDO-PALAVRA (diretivos e compromissivos);DUPA DIREÇ O (declarativos); DIREÇ O NULA (expressivos).
12. Que aproximaç es Searle faz em sua obra Intencionalidade?
Searle compara os atos de fala (fazer asserç es, pedir etc) aos estados intencionais (acreditar, desejar etc). A noç o de direç o de ajustamento também pe transposta para os estados intencionais. A crença como a intenç o deve conformar-se realidade, o desejo, assim como o pedido, é satisfeito se a realidade conformar-se a ele; MENTE-MUNDO; MUNDO- MENTE.
Há uma conex o entre os atos de linguagem e o estado intencional que lhes corresponde. Assim, por exemplo, o ato ilocucionário de asserç o é a express o do estado intencional de crença. Essa conex o é lógica como prova o caráter paradoxal de "p, mas n o creio que p."
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Handout1 - Tópicos - Grice e as implicaturas conversacionais
O filósofo inglês Henry Paul Grice (1913-1988), que foi prof. da Universidade da Califórnia, formulou a propostas de uma semântica fazendo a distinç o entre o significado do falante (speaker´s meaning) e significaç o literal.
O Método de Grice e sua teoria das "implicaturas conversacionais" foram inicialmente formuladas no texto "Logic and Conversation" (1967), fruto de confer ncias proferidas na Universidade de Harvard, publicado na coletânea de texto de Grice, Studies in the Way of Words (Harvard University Press, 1991)
A preocupaç o central de Grice era encontrar uma forma de descrever e explicar os efeitos de sentido que v o além do que é dito. Em última análise, como é possível que um enunciado signifique mais do que literalmente expresso. Deve haver algum tipo de regra que permita a um falante (A) transmitir algo além da frase e a um ouvinte (B) entender esta informaç o extra.
Grice prop e, inicialmente, um exemplo que se tornou clássico. (A) e (B) est o conversando sobre (C). (A) pergunta a (B) sobre a situaç o de (C) no seu emprego. (B) responde: "Oh! muito bem, eu acho; ele gosta de seus colegas e ainda n o foi preso". Um diálogo desse tipo, observa Grice, possibilita perceber, claramente, que há duas formas de significaç o distintas. A resposta de (B) diz que (C) está bem e ainda n o foi preso e implica ou sugere que isso pudesse ter acontecido, tendo em vista que (C) é o tipo de pessoa que pode ceder s press es do seu trabalho e fazer algo que o leve pris o. É a partir desse contexto que Grice introduz os termos técnicos implicitar (implicate), implicatura (implicature) e implicitado (implicatum). Seu objetivo é organizar, ao redor deles, um sistema explicativo dessa significaç o que (A) e (B) podem entender mas que, efetivamente, n o foi dita. É importante ressaltar, aqui, que Grice usa "dito" como o significado expresso pelo enunciado em termos literais ou, em outras palavras, como a proposiç o em seu valor semântico.
O conceito de implicatura conversacional é o centro das atenç es de Grice no seu artigo clássico e mesmo em trabalhos posteriores como o texto "Pressupositions and Conversational Implicative", de 1981.
Para ele, quando dois indivíduos est o dialogando, existem leis implícitas que governam o ato comunicativo. Isso significa que, mesmo inconscientemente, os interlocutores trabalham a mensagem lingüística de acordo com certas normas comuns que caracterizam um sistema cooperativo entre eles, para que as informaç es possam ser trocadas o mais univocamente possível. Grice chama, a esse conjunto de regras, "Princípio de Cooperaç o". N o é possível, nem imaginável, segundo ele, que um ato comunicativo pudesse ser totalmente livre, a ponto de falante e ouvinte perderem o controle do próprio jogo. Ao contrário, as regras do ato comunicativo talvez tenham sido aprendidas concomitantemente aquisiç o da língua, de tal forma que um falante competente do portugu s também conhece os efeitos de sentido que uma mensagem em portugu s pode adquirir pela aç o das regras do jogo comunicacional a que está submetido. N o é por outra raz o, aliás, que se fala muito, hoje, numa teoria de compet ncia comunicativa.
Nesse sentido, Grice, retomando uma formulaç o kantiana, sistematiza o seu "princípio de cooperaç o"(PC) através de quatro categorias fundamentais articuladas a máximas e submáximas.
O Princípio da Cooperaç o - Máximas e Implicaturas
Categoria da Quantidade
Relacionada quantidade de informaç o que deve ser fornecida numa mensagem. A ela corresponde duas máximas:
Faça com que sua mensagem seja t o informativa quanto necessária para a conversaç o.
N o d mais informaç es que o necessário.
Categoria da Qualidade
Relacionada inicialmente supermáxima "Procure afirmar coisas verdadeiras " e, indiretamente, a duas máximas mais específicas:
N o afirme o que voc acredita ser falso.
N o afirme algo para o qual voc n o possa fornecer evid ncia adequada.
Categoria de Relação
Ligada máxima "Seja Relevante".
Categoria do Modo
Ligada supermáxima "Seja Claro" e várias máximas como as citadas abaixo, entre outras:
Evite obscuridade de express o
Evite ambigüidade
Seja breve (evite prolixidade desnecessária)
Seja ordenado
Embora possa haver outras regras, ainda, como a da polidez, por exemplo, no circuito da comunicaç o, Grice deixa entender que as quatro categorias citadas s o suficientes para explicar o fenômeno da implicatura conversacional.
I - Nenhuma máxima é violada
(3) (A) - Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma farmácia nesta rua.
(4) (A) - N o suporto mais minha m e. (B) - Freud explica isso.
(5) (A) - A crise econômica parece cada vez pior. (B) - Parece? Voc já leu "O Capital"?
Mesmo que, aparentemente, os tr s exemplos apresentem a quebra de uma máxima como a da relevância ou de uma supermáxima como a da clareza, ainda assim, n o há motivos para se afirmar que (B) violou o princípio da cooperaç o. Ao contrário, (A) poderá deduzir a implicatura conversacional exatamente por compreender que (B) está respeitando as regras do diálogo.
Em (3), (A) deduz que (B) diz haver uma farmácia na rua porque quer implicar que ela deve estar aberta e ter remédios que possam ser adquiridos por (A) para que seu problema seja resolvido.
O exemplo (4) é mais sutil, mas ainda n o representa um desrespeito ao PC. (A) depreende da resposta de (B) que ela quer implicar a natureza psicanalítica da relaç o de (A) com sua m e. No caso, a implicatura poderia remeter a um elemento do contexto cultural comum a (A) e (B) representado pelo "Complexo de Édipo".
II - Uma máxima é violada para que a outra n o o seja
Neste caso, sup e-se que a máxima preservada seja mais relevante que a abandonada. (Respeito máxima de relevância quanto escolha da máxima a ser preservada)
(6) (A) - Que significa "pressuposiç o"? (B) - Consulte uma obra de semântica.
(7) (A) - Que horas s o? (B) - Já é tarde.
(8) (A) - Voc me ama? (B) - Eu gosto de estar em sua companhia.
Os tr s exemplos demonstram que a resposta de (B) quebra a máxima da quantidade por n o ser t o informativa quanto o requerido. Entretanto, (B) parece estar respondendo assim, para implicar que n o teria condiç es de oferecer uma resposta mais precisa e, por respeitar a supermáxima da qualidade, e acreditar que ela seja mais relevante no contexto que a da quantidade, prefere ser menos informativo a mentir.
No primeiro caso, (B) n o responde pergunta, oferecendo em seu lugar uma informaç o relativamente vaga mas que implica uma informaç o segura e sincera.
O exemplo seguinte também é bastante comum e os interlocutores de um diálogo, como esse, sabem perfeitamente o que (B) está dizendo e implicando. A pergunta de (A) requer uma resposta exata, a hora certa. Sabe-se, entretanto, que é muito freqüente que (B), n o tendo condiç es de dar a informaç o exigida, ofereça alguma satisfaç o pergunta, embora de forma vaga. (A) entende, perfeitamente, que (B) está dizendo que é tarde e implicando que n o pode, honestamente, dar uma resposta certa e exata para (A), mas assim mesmo, está atento mensagem e posicionando-se diante dela.
O último diálogo também é bastante familiar. A pergunta de (A) poderia ser respondida sim ou n o; (B), porém, prefere afirmar algo que parece estar quebrando a máxima da relevância e da quantidade, tentando implicar que n o pode ou n o quer dar uma resposta radical pergunta de (A). Essas implicaturas representam uma das leituras possíveis , uma vez que, se (B) está cooperando, ele autoriza (A) a buscar alguma infer ncia desse tipo.
III - Violaç o de uma máxima para obter implicatura conversacional.
As figuras de linguagem em geral est o contidas nesse caso.
1a) Abandono da máxima da quantidade (por falta de informaç o)
(9) (A) - O que voc pensa dos judeus? (B) - Um judeu é um judeu.
A tautologia, nesse sentido, representa uma violaç o voluntária da máxima da quantidade medida que (B) resolve responder a pergunta como uma afirmaç o redundante para implicar que judeu n o é, apenas, um povo particular, mas algo de especial que a história registrou por tudo o que se disse dele.
1b) Abandono da máxima de quantidade (por excesso de informaç o)
(10) (A) - Qual foi o resultado do jogo de hoje? (B) - O Gr mio perdeu de dois a zero e, agora, está com tr s pontos atrás do Inter e saldo de golos negativo.
A resposta de (B) é mais informativa do que o requerido para que possa implicar que o Gr mio, além de perder, está em má situaç o na tabela de classificaç o.
2a) Abandono da primeira máxima da qualidade
(11) (A) - O que voc acha do governo militar? (B) - Democrático demais.
Este exemplo evidencia o que costumeiramente se entende por ironia. (A) e (B) sabem que a grande acusaç o feita aos governos militares é n o serem eleitos pelo povo, na maioria dos casos, e obstaculizarem as eleiç es diretas. Nesse sentido, a resposta de (B) é francamente irônica, afirmando algo em que ele n o acredita, para implicar que, ao contrário do que se diz, acusa o governo de antidemocrático.
(12) (A) - Em S o Paulo todos trabalham. (B) - É verdade. S o Paulo é uma enorme fábrica.
A resposta de (B) é a violaç o da máxima da qualidade através do processo conhecido como metáfora. (A) e (B) sabem que (B) sabe que S o Paulo n o é uma fábrica enorme, mas entendem que a resposta metafórica implica a crença de (B) sobre a capacidade de trabalho que há nesta cidade.
Como o próprio Grice observa, é possível, muitas vezes, misturar-se a metáfora com a ironia, atentando-se duplamente contra a máxima da qualidade. Como é o caso de um enunciado do tipo "O nordeste é o paraíso dos que trabalham."
(13) (A) - Jo o foi internado numa clínica psiquiátrica. (B) - É, ele andava um pouco nervoso. (A) - A m e dele já está bastante velha. (B) - Velha? é uma criatura pré-histórica.
Aqui, os recurso utilizados caracterizam o que se denomina eufemismo e disfemismo. As resposta de (B) s o intencionalmente falsas. A primeira, no sentido de suavizar a normalidade psíquica de Jo o, e a segunda, no sentido de exagerar a velhice de sua m e. As implicaturas conversacionais s o decorrentes dessa quebra voluntária da primeira máxima da qualidade.
(14) (A) - Voc me acha bonita? (B) - Voc é a mais linda do mundo.
(A) entende, claramente, que (B) está exagerando (hipérbole) para implicar que ele a considera muito linda, embora n o acredite, provavelmente, no que diz, porque também n o possui evid ncia do que afirma.
2b) Abandono da segunda máxima de qualidade
(15) (A) - Onde está o Delfim Neto? (B) - Deve andar pedindo algum dinheiro por aí.
Neste caso, (A) sabe que (B) n o teria condiç es de provas do que disse, mas entende, perfeitamente, que ele (B) quer implicar que o Ministro do Planejamento só faz isso, ou seja, pede empréstimos.
3) Abandono da máxima da relaç o
Consiste na quebra voluntária da máxima "Seja Relevante"
(16) (A) - Voc vai me dar uma aliança de brilhante de presente? (B) - Puxa! Como está quente, hoje. (A) - Eu perguntei se voc vai me dar a aliança? (B) - Em compensaç o, acho que finalmente vai chover.
Neste contexto, poder-se-ia supor que marido e mulher dialogassem, e que o marido (B) estivesse quebrando a máxima de relevância para implicar que n o quer enfrentar a pergunta de sua mulher (A) objetivamente. A sua segunda resposta é relevante em relaç o a sua primeira afirmaç o e continua quebrando a máxima no que se refere pergunta de sua mulher.
4) Abandono da máxima do modo
Consiste na quebra da supermáxima "Seja Claro", através de diversas formas.
4a) Ambigüidade
(17) (A) - Sua secretária parece ser eficiente. (B) - Sem dúvida, é uma mulher muito boa.
A resposta de (B), no caso, explora voluntariamente, a ambigüidade da express o "boa" em portugu s, quando aplicada a uma mulher. (B) diz que ela é boa, mas acentua o objetivo para implicar a possibilidade de ela ser muito sensual.
4b) Obscuridade
(18) (A) - Paulo, por que voc me pediu para esperá-lo no quarto? (B) - (Na frente da mulher e do filho pequeno) Bem, eu tinha um assunto muito importante para tratar com voc , um assunto particular, voc me entende, n o?
(B), neste caso, está sendo propositadamente obscuro para n o falar de algo que n o quer que o filho saiba. Explora, voluntariamente, a vaguidade de sua resposta para implicar que quer algo (sexo, por exemplo) com sua mulher de que, o filho n o deve tomar conhecimento.
4c) Falta de concisão
(19) (A) - Em qual das obras de Gazdar se encontra a definiç o de pragmática? (B) - Na obra Pragmatics, Implicature, Pressupposition and Logical Form, de 1979, editada pela Academic Press, na página 2, terceiro parágrafo da introduç o, na oitava linha.
Esse exemplo pode servir para que (A) entenda que a resposta de (B) quer implicar o seu nível de especializaç o e conhecimento bibliográfico.
4d) Falta de ordem
(20) (A) - Voc sabe brincar de índio? (B) - Brincadeira de índio mim gostar.
A resposta de (B) quebra, intencionalmente, a ordem para implicar que ele aceitou o convite.
Antes de empreendermos a análise crítica do sistema griceano, cabe explicitar as propriedades que as implicaturas devem ter para que possam ser consideradas como tais, segundo o próprio Grice.
1 - As implicaturas convencionais s o:
presas força convencional do significado das palavras;
reconhecidas pelo interlocutor mediante a sua intuiç o lingüística. N o dependem de um trabalho de cálculo dedutivo.
2- As implicaturas conversacionais devem ser:
calculáveis ou dedutíveis
canceláveis
n o-separáveis
indetermináveis
externas ao sentido do enunciado - n o-convencionais
n o determinadas pelo dito, mas pelo dizer e dito.
Calculáveis e dedutíveis
Grice afirma que, se uma implicatura n o for reconhecida pelo trabalho do cálculo lógico, ela n o pode ser conversacional. Consideremos um exemplo anteriormente dado:
(3) (A) - Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma farmácia nesta rua.
(A) acredita que (B) está respeitando o princípio da cooperaç o e, ent o calcula: se (B) disse que há uma farmácia nesta rua ao ouvir a minha frase, (B) quer implicar que
Devo ir farmácia
Ela deve estar aberta
Ela deve ter remédio para dor-de-cabeça
Eu devo comprá-lo
Isso irá resolver meu problema.
É um trabalho de cálculo lógico que Grice considera uma propriedade básica para que se localiza uma implicatura conversacional.
Canceláveis
Em primeiro lugar, uma implicatura conversacional pode ser cancelada, simplesmente porque o princípio da cooperaç o que deve estar sendo respeitado para que ela exista, pode n o s -lo num contexto particular. Consideremos o seguinte exemplo:
(21) (A) - Preciso de dinheiro. (B) - N o me irrite
(A) pode entender que (B) está implicando que (A) n o deve pedir-lhe dinheiro. (B), porém, pode n o estar obedecendo ao princípio da cooperaç o e, simplesmente, estar protestando contra o gesto de (A) ou, até referindo-se a outra atitude de (A) que bate a porta, por exemplo.
Um outro tipo de cancelamento de uma implicatura conversacional é aquele feito mediante uma cláusula (oraç o) adicional.
(22) (A) - Quanto voc tem na poupança? (B) - R$ 200,00
Aqui, (A) entende que, se (B) está respeitando a máxima da quantidade, ele tem R$ 200,00 como diz e implica que tem só isso. Pois bem, a implicatura poderia ser cancelada por uma cláusula condicional: R$ 200,00 se n o mais.
Há ainda, um outro tipo de cancelamento que o contexto pode possibilitar sem acréscimo de nenhum reforço lingüístico. (A) diz para (B) que quer vender seu carro. (B) pergunta quanto custa e (A) diz que é R$ 6000,00 ao que (B) responde: Bem, eu tenho R$ 6000,00. Nesse caso n o podemos inferir que é só isso que (B) tem.
N o-separáveis
Essa propriedade diz respeito ao fato de que as implicaturas conversacionais, para que possam ser calculadas, exigem um conhecimento contextual, além do conteúdo semântico da express o, n o dependendo, portanto, do modo da express o. Em outras palavras, a implicatura permanecerá desde que se diga a mesma coisa ainda que de outra maneira, com sinônimos, por exemplo.
Consideremos o exemplo abaixo:
Modo de express o X Modo de express o Y
(23) (A) - A minha cabeça está doendo. Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma drogaria aqui perto. Há uma farmácia nesta rua.
O diálogo, no caso, tanto no modo de express o X quanto no modo de express o Y, revela a mesma implicatura, tendo em vista que o dito n o se alterou em X ou Y.
Indetermináveis
Neste caso, a metáfora parece ser um exemplo bastante evidente.
(24) (A) - O que voc acha do jogador Sócrates? (B) - Sócrates é um le o.
(B) viola, aqui, a máxima da qualidade. Ele sabe que Sócrates n o é, efetivamente, um le o, mas quer implicar que Sócrates é forte e esforçado como um le o. Poderíamos, entretanto, supor que (B) quisesse implicar que Sócrates é o rei dos jogadores ou, em outro contexto, que ele é carnívoro e agressivo. Enfim, como o cálculo da implicatura pode, as vezes, referir-se a uma lista aberta de implicitados, estes podem ser indeterminados como, alias, é comum nos casos de subentendidos.
N o-convencionais
Essa propriedade diz respeito diferença que Grice estabelece entre implicaturas conversacionais e convencionais. Ele até admite que uma implicatura conversacional possa tornar-se convencionalizada, mas, em princípio, n o deve fazer parte da força convencional das palavras do enunciado.
Consideremos o seguinte exemplo:
(25) (A) - Voc acha que política é uma coisa simples? (B) - Tanto quanto a teoria da relatividade.
A resposta de (B) produz uma implicatura conversacional medida que (A) deduz que, tendo em vista a sua pergunta, e o aparente abandono da máxima da relevância na resposta de (B), ele (B) deseja implicar que política é muito difícil e complexa, e isso n o faz parte do significado literal do seu enunciado.
N o veiculada pelo dito
Aqui, Grice tenta demonstrar que só as condiç es -de- verdade n o determinam a implicatura. O que é dito pode ser verdadeiro e o implicado, falso.
Veja-se o caso abaixo:
(26) (A) - Será que Jo o fez a bobagem de viajar? (B) - Se ele fez, está feito.
O enunciado de (B) é verdadeiro, a medida que é tautológico. O fato de ser tautológico implica que (B) quer que (A) entenda que a preocupaç o de (A) n o resolve nada. Isso, entretanto, pode ser falso, desde que, por exemplo, (A) pudesse tomar alguma atitude, determinada por sua preocupaç o. Em outras palavras, "Jo o pode ter viajado" é o dito e é verdadeiro. "N o adianta mais nenhuma preocupaç o" é o implicado e é falso, uma vez que (A) pode, a partir daí, tomar decis es que n o tomaria se Jo o n o tivesse viajado.
As implicaturas conversacionais podem subdividir-se, segundo Grice, em dois tipos:
a) Implicaturas Conversacionais Generalizadas.
S o aquelas que n o dependem de especificaç es de um contexto particular. Consideremos o caso abaixo:
(27) (A) - "Teresa deu presentes a um beb ontem."
Independentemente do contexto, a frase de (A) implica que o beb n o é filho de Teresa. Alias, se alguém acrescentasse em seguida que o beb em quest o era filho dela, a frase de (A) surprenderia por parecer estar quebrando princípio da cooperaç o. Grice observa que esse tipo de implicatura é muito semelhante s convencionais, evitando, inclusive, maiores exemplos.
b) Implicaturas Conversacionais Particularizadas
S o as que exigem, para que possam ser calculadas, informaç es de um contexto específico.
Examinemos o exemplo:
(28) (A) - Maria está t o feliz agora.
Está frase poderia implicar que "Maria fez as pazes com o namorado" desde que o contexto particular fosse este:
Maria andava infeliz Maria tinha brigado com o namorado
Parece evidente que a quebra de máximas que caracteriza a ironia, por exemplo, provoca, quase sempre, implicaturas conversacionais particularizadas, tendo em vista a depend ncia do contexto que a ironia possui. Se (A) diz que Jo o é um g nio, isso só pode ser irônico para (B) num contexto (C) onde Jo o seja um idiota, por exemplo.
Refer ncias
1 J. Searle, Speech Acts. Cambridge. 1969
2 H.P. Grice. Logic and Conversation, in P. Cole and J.L. Morgan (eds), Sintax and Demantics, vol 3. New York. Academic Press. 1975. p.43
3 cf. Grice, op. cit., p. 44
4 cf. as inúmeras observaç es feitas por S. J. Schimidt ao longo de seu trabalho sobre lingüística do texto. Lingüística e Teoria do Texto. 1978. p.32-35
5 Neste caso, Grice observa que as máximas, pelo menos aparentemente, n o est o violadas. O que ele quer dizer, e que n o ficou claro no texto original, é que (A) e (B) em diálogo, n o est o considerando nenhuma implicatura por violaç o. Antes, é o respeito ao PC que está gerando significaç es extralingüísticas.
- Bibliografia –
MARCONDES, C. A Pragmática na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
http://www.pucrs.br/letras/pos/logica/implicat.html (acesso em 17/11/2008)
O Método de Grice e sua teoria das "implicaturas conversacionais" foram inicialmente formuladas no texto "Logic and Conversation" (1967), fruto de confer ncias proferidas na Universidade de Harvard, publicado na coletânea de texto de Grice, Studies in the Way of Words (Harvard University Press, 1991)
A preocupaç o central de Grice era encontrar uma forma de descrever e explicar os efeitos de sentido que v o além do que é dito. Em última análise, como é possível que um enunciado signifique mais do que literalmente expresso. Deve haver algum tipo de regra que permita a um falante (A) transmitir algo além da frase e a um ouvinte (B) entender esta informaç o extra.
Grice prop e, inicialmente, um exemplo que se tornou clássico. (A) e (B) est o conversando sobre (C). (A) pergunta a (B) sobre a situaç o de (C) no seu emprego. (B) responde: "Oh! muito bem, eu acho; ele gosta de seus colegas e ainda n o foi preso". Um diálogo desse tipo, observa Grice, possibilita perceber, claramente, que há duas formas de significaç o distintas. A resposta de (B) diz que (C) está bem e ainda n o foi preso e implica ou sugere que isso pudesse ter acontecido, tendo em vista que (C) é o tipo de pessoa que pode ceder s press es do seu trabalho e fazer algo que o leve pris o. É a partir desse contexto que Grice introduz os termos técnicos implicitar (implicate), implicatura (implicature) e implicitado (implicatum). Seu objetivo é organizar, ao redor deles, um sistema explicativo dessa significaç o que (A) e (B) podem entender mas que, efetivamente, n o foi dita. É importante ressaltar, aqui, que Grice usa "dito" como o significado expresso pelo enunciado em termos literais ou, em outras palavras, como a proposiç o em seu valor semântico.
O conceito de implicatura conversacional é o centro das atenç es de Grice no seu artigo clássico e mesmo em trabalhos posteriores como o texto "Pressupositions and Conversational Implicative", de 1981.
Para ele, quando dois indivíduos est o dialogando, existem leis implícitas que governam o ato comunicativo. Isso significa que, mesmo inconscientemente, os interlocutores trabalham a mensagem lingüística de acordo com certas normas comuns que caracterizam um sistema cooperativo entre eles, para que as informaç es possam ser trocadas o mais univocamente possível. Grice chama, a esse conjunto de regras, "Princípio de Cooperaç o". N o é possível, nem imaginável, segundo ele, que um ato comunicativo pudesse ser totalmente livre, a ponto de falante e ouvinte perderem o controle do próprio jogo. Ao contrário, as regras do ato comunicativo talvez tenham sido aprendidas concomitantemente aquisiç o da língua, de tal forma que um falante competente do portugu s também conhece os efeitos de sentido que uma mensagem em portugu s pode adquirir pela aç o das regras do jogo comunicacional a que está submetido. N o é por outra raz o, aliás, que se fala muito, hoje, numa teoria de compet ncia comunicativa.
Nesse sentido, Grice, retomando uma formulaç o kantiana, sistematiza o seu "princípio de cooperaç o"(PC) através de quatro categorias fundamentais articuladas a máximas e submáximas.
O Princípio da Cooperaç o - Máximas e Implicaturas
Categoria da Quantidade
Relacionada quantidade de informaç o que deve ser fornecida numa mensagem. A ela corresponde duas máximas:
Faça com que sua mensagem seja t o informativa quanto necessária para a conversaç o.
N o d mais informaç es que o necessário.
Categoria da Qualidade
Relacionada inicialmente supermáxima "Procure afirmar coisas verdadeiras " e, indiretamente, a duas máximas mais específicas:
N o afirme o que voc acredita ser falso.
N o afirme algo para o qual voc n o possa fornecer evid ncia adequada.
Categoria de Relação
Ligada máxima "Seja Relevante".
Categoria do Modo
Ligada supermáxima "Seja Claro" e várias máximas como as citadas abaixo, entre outras:
Evite obscuridade de express o
Evite ambigüidade
Seja breve (evite prolixidade desnecessária)
Seja ordenado
Embora possa haver outras regras, ainda, como a da polidez, por exemplo, no circuito da comunicaç o, Grice deixa entender que as quatro categorias citadas s o suficientes para explicar o fenômeno da implicatura conversacional.
I - Nenhuma máxima é violada
(3) (A) - Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma farmácia nesta rua.
(4) (A) - N o suporto mais minha m e. (B) - Freud explica isso.
(5) (A) - A crise econômica parece cada vez pior. (B) - Parece? Voc já leu "O Capital"?
Mesmo que, aparentemente, os tr s exemplos apresentem a quebra de uma máxima como a da relevância ou de uma supermáxima como a da clareza, ainda assim, n o há motivos para se afirmar que (B) violou o princípio da cooperaç o. Ao contrário, (A) poderá deduzir a implicatura conversacional exatamente por compreender que (B) está respeitando as regras do diálogo.
Em (3), (A) deduz que (B) diz haver uma farmácia na rua porque quer implicar que ela deve estar aberta e ter remédios que possam ser adquiridos por (A) para que seu problema seja resolvido.
O exemplo (4) é mais sutil, mas ainda n o representa um desrespeito ao PC. (A) depreende da resposta de (B) que ela quer implicar a natureza psicanalítica da relaç o de (A) com sua m e. No caso, a implicatura poderia remeter a um elemento do contexto cultural comum a (A) e (B) representado pelo "Complexo de Édipo".
II - Uma máxima é violada para que a outra n o o seja
Neste caso, sup e-se que a máxima preservada seja mais relevante que a abandonada. (Respeito máxima de relevância quanto escolha da máxima a ser preservada)
(6) (A) - Que significa "pressuposiç o"? (B) - Consulte uma obra de semântica.
(7) (A) - Que horas s o? (B) - Já é tarde.
(8) (A) - Voc me ama? (B) - Eu gosto de estar em sua companhia.
Os tr s exemplos demonstram que a resposta de (B) quebra a máxima da quantidade por n o ser t o informativa quanto o requerido. Entretanto, (B) parece estar respondendo assim, para implicar que n o teria condiç es de oferecer uma resposta mais precisa e, por respeitar a supermáxima da qualidade, e acreditar que ela seja mais relevante no contexto que a da quantidade, prefere ser menos informativo a mentir.
No primeiro caso, (B) n o responde pergunta, oferecendo em seu lugar uma informaç o relativamente vaga mas que implica uma informaç o segura e sincera.
O exemplo seguinte também é bastante comum e os interlocutores de um diálogo, como esse, sabem perfeitamente o que (B) está dizendo e implicando. A pergunta de (A) requer uma resposta exata, a hora certa. Sabe-se, entretanto, que é muito freqüente que (B), n o tendo condiç es de dar a informaç o exigida, ofereça alguma satisfaç o pergunta, embora de forma vaga. (A) entende, perfeitamente, que (B) está dizendo que é tarde e implicando que n o pode, honestamente, dar uma resposta certa e exata para (A), mas assim mesmo, está atento mensagem e posicionando-se diante dela.
O último diálogo também é bastante familiar. A pergunta de (A) poderia ser respondida sim ou n o; (B), porém, prefere afirmar algo que parece estar quebrando a máxima da relevância e da quantidade, tentando implicar que n o pode ou n o quer dar uma resposta radical pergunta de (A). Essas implicaturas representam uma das leituras possíveis , uma vez que, se (B) está cooperando, ele autoriza (A) a buscar alguma infer ncia desse tipo.
III - Violaç o de uma máxima para obter implicatura conversacional.
As figuras de linguagem em geral est o contidas nesse caso.
1a) Abandono da máxima da quantidade (por falta de informaç o)
(9) (A) - O que voc pensa dos judeus? (B) - Um judeu é um judeu.
A tautologia, nesse sentido, representa uma violaç o voluntária da máxima da quantidade medida que (B) resolve responder a pergunta como uma afirmaç o redundante para implicar que judeu n o é, apenas, um povo particular, mas algo de especial que a história registrou por tudo o que se disse dele.
1b) Abandono da máxima de quantidade (por excesso de informaç o)
(10) (A) - Qual foi o resultado do jogo de hoje? (B) - O Gr mio perdeu de dois a zero e, agora, está com tr s pontos atrás do Inter e saldo de golos negativo.
A resposta de (B) é mais informativa do que o requerido para que possa implicar que o Gr mio, além de perder, está em má situaç o na tabela de classificaç o.
2a) Abandono da primeira máxima da qualidade
(11) (A) - O que voc acha do governo militar? (B) - Democrático demais.
Este exemplo evidencia o que costumeiramente se entende por ironia. (A) e (B) sabem que a grande acusaç o feita aos governos militares é n o serem eleitos pelo povo, na maioria dos casos, e obstaculizarem as eleiç es diretas. Nesse sentido, a resposta de (B) é francamente irônica, afirmando algo em que ele n o acredita, para implicar que, ao contrário do que se diz, acusa o governo de antidemocrático.
(12) (A) - Em S o Paulo todos trabalham. (B) - É verdade. S o Paulo é uma enorme fábrica.
A resposta de (B) é a violaç o da máxima da qualidade através do processo conhecido como metáfora. (A) e (B) sabem que (B) sabe que S o Paulo n o é uma fábrica enorme, mas entendem que a resposta metafórica implica a crença de (B) sobre a capacidade de trabalho que há nesta cidade.
Como o próprio Grice observa, é possível, muitas vezes, misturar-se a metáfora com a ironia, atentando-se duplamente contra a máxima da qualidade. Como é o caso de um enunciado do tipo "O nordeste é o paraíso dos que trabalham."
(13) (A) - Jo o foi internado numa clínica psiquiátrica. (B) - É, ele andava um pouco nervoso. (A) - A m e dele já está bastante velha. (B) - Velha? é uma criatura pré-histórica.
Aqui, os recurso utilizados caracterizam o que se denomina eufemismo e disfemismo. As resposta de (B) s o intencionalmente falsas. A primeira, no sentido de suavizar a normalidade psíquica de Jo o, e a segunda, no sentido de exagerar a velhice de sua m e. As implicaturas conversacionais s o decorrentes dessa quebra voluntária da primeira máxima da qualidade.
(14) (A) - Voc me acha bonita? (B) - Voc é a mais linda do mundo.
(A) entende, claramente, que (B) está exagerando (hipérbole) para implicar que ele a considera muito linda, embora n o acredite, provavelmente, no que diz, porque também n o possui evid ncia do que afirma.
2b) Abandono da segunda máxima de qualidade
(15) (A) - Onde está o Delfim Neto? (B) - Deve andar pedindo algum dinheiro por aí.
Neste caso, (A) sabe que (B) n o teria condiç es de provas do que disse, mas entende, perfeitamente, que ele (B) quer implicar que o Ministro do Planejamento só faz isso, ou seja, pede empréstimos.
3) Abandono da máxima da relaç o
Consiste na quebra voluntária da máxima "Seja Relevante"
(16) (A) - Voc vai me dar uma aliança de brilhante de presente? (B) - Puxa! Como está quente, hoje. (A) - Eu perguntei se voc vai me dar a aliança? (B) - Em compensaç o, acho que finalmente vai chover.
Neste contexto, poder-se-ia supor que marido e mulher dialogassem, e que o marido (B) estivesse quebrando a máxima de relevância para implicar que n o quer enfrentar a pergunta de sua mulher (A) objetivamente. A sua segunda resposta é relevante em relaç o a sua primeira afirmaç o e continua quebrando a máxima no que se refere pergunta de sua mulher.
4) Abandono da máxima do modo
Consiste na quebra da supermáxima "Seja Claro", através de diversas formas.
4a) Ambigüidade
(17) (A) - Sua secretária parece ser eficiente. (B) - Sem dúvida, é uma mulher muito boa.
A resposta de (B), no caso, explora voluntariamente, a ambigüidade da express o "boa" em portugu s, quando aplicada a uma mulher. (B) diz que ela é boa, mas acentua o objetivo para implicar a possibilidade de ela ser muito sensual.
4b) Obscuridade
(18) (A) - Paulo, por que voc me pediu para esperá-lo no quarto? (B) - (Na frente da mulher e do filho pequeno) Bem, eu tinha um assunto muito importante para tratar com voc , um assunto particular, voc me entende, n o?
(B), neste caso, está sendo propositadamente obscuro para n o falar de algo que n o quer que o filho saiba. Explora, voluntariamente, a vaguidade de sua resposta para implicar que quer algo (sexo, por exemplo) com sua mulher de que, o filho n o deve tomar conhecimento.
4c) Falta de concisão
(19) (A) - Em qual das obras de Gazdar se encontra a definiç o de pragmática? (B) - Na obra Pragmatics, Implicature, Pressupposition and Logical Form, de 1979, editada pela Academic Press, na página 2, terceiro parágrafo da introduç o, na oitava linha.
Esse exemplo pode servir para que (A) entenda que a resposta de (B) quer implicar o seu nível de especializaç o e conhecimento bibliográfico.
4d) Falta de ordem
(20) (A) - Voc sabe brincar de índio? (B) - Brincadeira de índio mim gostar.
A resposta de (B) quebra, intencionalmente, a ordem para implicar que ele aceitou o convite.
Antes de empreendermos a análise crítica do sistema griceano, cabe explicitar as propriedades que as implicaturas devem ter para que possam ser consideradas como tais, segundo o próprio Grice.
1 - As implicaturas convencionais s o:
presas força convencional do significado das palavras;
reconhecidas pelo interlocutor mediante a sua intuiç o lingüística. N o dependem de um trabalho de cálculo dedutivo.
2- As implicaturas conversacionais devem ser:
calculáveis ou dedutíveis
canceláveis
n o-separáveis
indetermináveis
externas ao sentido do enunciado - n o-convencionais
n o determinadas pelo dito, mas pelo dizer e dito.
Calculáveis e dedutíveis
Grice afirma que, se uma implicatura n o for reconhecida pelo trabalho do cálculo lógico, ela n o pode ser conversacional. Consideremos um exemplo anteriormente dado:
(3) (A) - Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma farmácia nesta rua.
(A) acredita que (B) está respeitando o princípio da cooperaç o e, ent o calcula: se (B) disse que há uma farmácia nesta rua ao ouvir a minha frase, (B) quer implicar que
Devo ir farmácia
Ela deve estar aberta
Ela deve ter remédio para dor-de-cabeça
Eu devo comprá-lo
Isso irá resolver meu problema.
É um trabalho de cálculo lógico que Grice considera uma propriedade básica para que se localiza uma implicatura conversacional.
Canceláveis
Em primeiro lugar, uma implicatura conversacional pode ser cancelada, simplesmente porque o princípio da cooperaç o que deve estar sendo respeitado para que ela exista, pode n o s -lo num contexto particular. Consideremos o seguinte exemplo:
(21) (A) - Preciso de dinheiro. (B) - N o me irrite
(A) pode entender que (B) está implicando que (A) n o deve pedir-lhe dinheiro. (B), porém, pode n o estar obedecendo ao princípio da cooperaç o e, simplesmente, estar protestando contra o gesto de (A) ou, até referindo-se a outra atitude de (A) que bate a porta, por exemplo.
Um outro tipo de cancelamento de uma implicatura conversacional é aquele feito mediante uma cláusula (oraç o) adicional.
(22) (A) - Quanto voc tem na poupança? (B) - R$ 200,00
Aqui, (A) entende que, se (B) está respeitando a máxima da quantidade, ele tem R$ 200,00 como diz e implica que tem só isso. Pois bem, a implicatura poderia ser cancelada por uma cláusula condicional: R$ 200,00 se n o mais.
Há ainda, um outro tipo de cancelamento que o contexto pode possibilitar sem acréscimo de nenhum reforço lingüístico. (A) diz para (B) que quer vender seu carro. (B) pergunta quanto custa e (A) diz que é R$ 6000,00 ao que (B) responde: Bem, eu tenho R$ 6000,00. Nesse caso n o podemos inferir que é só isso que (B) tem.
N o-separáveis
Essa propriedade diz respeito ao fato de que as implicaturas conversacionais, para que possam ser calculadas, exigem um conhecimento contextual, além do conteúdo semântico da express o, n o dependendo, portanto, do modo da express o. Em outras palavras, a implicatura permanecerá desde que se diga a mesma coisa ainda que de outra maneira, com sinônimos, por exemplo.
Consideremos o exemplo abaixo:
Modo de express o X Modo de express o Y
(23) (A) - A minha cabeça está doendo. Estou com dor-de-cabeça. (B) - Há uma drogaria aqui perto. Há uma farmácia nesta rua.
O diálogo, no caso, tanto no modo de express o X quanto no modo de express o Y, revela a mesma implicatura, tendo em vista que o dito n o se alterou em X ou Y.
Indetermináveis
Neste caso, a metáfora parece ser um exemplo bastante evidente.
(24) (A) - O que voc acha do jogador Sócrates? (B) - Sócrates é um le o.
(B) viola, aqui, a máxima da qualidade. Ele sabe que Sócrates n o é, efetivamente, um le o, mas quer implicar que Sócrates é forte e esforçado como um le o. Poderíamos, entretanto, supor que (B) quisesse implicar que Sócrates é o rei dos jogadores ou, em outro contexto, que ele é carnívoro e agressivo. Enfim, como o cálculo da implicatura pode, as vezes, referir-se a uma lista aberta de implicitados, estes podem ser indeterminados como, alias, é comum nos casos de subentendidos.
N o-convencionais
Essa propriedade diz respeito diferença que Grice estabelece entre implicaturas conversacionais e convencionais. Ele até admite que uma implicatura conversacional possa tornar-se convencionalizada, mas, em princípio, n o deve fazer parte da força convencional das palavras do enunciado.
Consideremos o seguinte exemplo:
(25) (A) - Voc acha que política é uma coisa simples? (B) - Tanto quanto a teoria da relatividade.
A resposta de (B) produz uma implicatura conversacional medida que (A) deduz que, tendo em vista a sua pergunta, e o aparente abandono da máxima da relevância na resposta de (B), ele (B) deseja implicar que política é muito difícil e complexa, e isso n o faz parte do significado literal do seu enunciado.
N o veiculada pelo dito
Aqui, Grice tenta demonstrar que só as condiç es -de- verdade n o determinam a implicatura. O que é dito pode ser verdadeiro e o implicado, falso.
Veja-se o caso abaixo:
(26) (A) - Será que Jo o fez a bobagem de viajar? (B) - Se ele fez, está feito.
O enunciado de (B) é verdadeiro, a medida que é tautológico. O fato de ser tautológico implica que (B) quer que (A) entenda que a preocupaç o de (A) n o resolve nada. Isso, entretanto, pode ser falso, desde que, por exemplo, (A) pudesse tomar alguma atitude, determinada por sua preocupaç o. Em outras palavras, "Jo o pode ter viajado" é o dito e é verdadeiro. "N o adianta mais nenhuma preocupaç o" é o implicado e é falso, uma vez que (A) pode, a partir daí, tomar decis es que n o tomaria se Jo o n o tivesse viajado.
As implicaturas conversacionais podem subdividir-se, segundo Grice, em dois tipos:
a) Implicaturas Conversacionais Generalizadas.
S o aquelas que n o dependem de especificaç es de um contexto particular. Consideremos o caso abaixo:
(27) (A) - "Teresa deu presentes a um beb ontem."
Independentemente do contexto, a frase de (A) implica que o beb n o é filho de Teresa. Alias, se alguém acrescentasse em seguida que o beb em quest o era filho dela, a frase de (A) surprenderia por parecer estar quebrando princípio da cooperaç o. Grice observa que esse tipo de implicatura é muito semelhante s convencionais, evitando, inclusive, maiores exemplos.
b) Implicaturas Conversacionais Particularizadas
S o as que exigem, para que possam ser calculadas, informaç es de um contexto específico.
Examinemos o exemplo:
(28) (A) - Maria está t o feliz agora.
Está frase poderia implicar que "Maria fez as pazes com o namorado" desde que o contexto particular fosse este:
Maria andava infeliz Maria tinha brigado com o namorado
Parece evidente que a quebra de máximas que caracteriza a ironia, por exemplo, provoca, quase sempre, implicaturas conversacionais particularizadas, tendo em vista a depend ncia do contexto que a ironia possui. Se (A) diz que Jo o é um g nio, isso só pode ser irônico para (B) num contexto (C) onde Jo o seja um idiota, por exemplo.
Refer ncias
1 J. Searle, Speech Acts. Cambridge. 1969
2 H.P. Grice. Logic and Conversation, in P. Cole and J.L. Morgan (eds), Sintax and Demantics, vol 3. New York. Academic Press. 1975. p.43
3 cf. Grice, op. cit., p. 44
4 cf. as inúmeras observaç es feitas por S. J. Schimidt ao longo de seu trabalho sobre lingüística do texto. Lingüística e Teoria do Texto. 1978. p.32-35
5 Neste caso, Grice observa que as máximas, pelo menos aparentemente, n o est o violadas. O que ele quer dizer, e que n o ficou claro no texto original, é que (A) e (B) em diálogo, n o est o considerando nenhuma implicatura por violaç o. Antes, é o respeito ao PC que está gerando significaç es extralingüísticas.
- Bibliografia –
MARCONDES, C. A Pragmática na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
http://www.pucrs.br/letras/pos/logica/implicat.html (acesso em 17/11/2008)
IX Confer ncia – Distinç o entre atos ilocucionários e perlocucionários
Quest es de trabalho
1.O que cria maior dificuldade na distinç o entre ilocuç es e perlocuç es?
Temos que separar a aç o que fazemos de sua conseqü ncia. Em geral, se a aç o n o consiste em dizer algo, mas trata-se de uma aç o "física" n o convencional, a quest o complica-se. Austin prop e deixar de lado a noç o de ato físico mínimo, n o teríamos qualquer tipo de designaç o para distinguir atos físicos de suas conseqü ncias.
2.Que ajuda podemos receber da natureza especial dos atos de dizer em contraste com aç es físicas?
Quaisquer que sejam as conseqü ncias naturais e imediatas de um ato de dizer, estas n o s o normalmente outros atos de dizer. Temos aqui uma espécie de ruptura natural da cadeia.
3. Por que n o há um divórcio completo entre aç es "físicas" e atos de dizer algo?
Para realizar um ato ilocucionário é necessário realizar um ato locucionário, por exemplo, agradecer é dizer certas palavras. E dizer certas palavras é necessariamente fazer certos movimentos com os órg os vocais.
4.Pode-se dizer que o ato ilocucionário é uma conseqü ncia do ato locucionário?
Austin preocupa-se em esclarecer que nem mesmo os atos "fáticos" e "réticos" s o conseqü ncia dos atos fonéticos. O que ele introduziu pela nomenclatura da ilocuç o é uma refer ncia, n o s conseqü ncias da locuç o, e sim uma refer ncia s convenç es da força ilocucionária relacionadas com as circunstâncias especiais da ocasi o em que o proferimento é emitido.
5.Como explicar que o ato ilocucionário está relacionado com a produç o de efeitos em certos sentidos?
Se n o alcançar determinado efeito, o ato ilocucionário n o terá sido bem sucedido. A realizaç o de um ato ilocucionário envolve assegurar uma apreens o. Por ex.: n o se pode dizer que Austin preveniu o auditório a menos que este escute o que ele diz e tome isso em um determinado sentido.
6. Que distinç o Austin estabelece entre "tem efeito" de "produzir conseqü ncias"?
Ao dizer :"Batizo este navio com o nome de Queen Elizabeth" tem o efeito de batizar ou dar nome; se certos atos, tais como referir-se ao barco como generalíssimo Stalin, ser o sem cabimento.
7. Por que muitos atos ilocucionários levam a uma resposta ou seqüela que pode ter uma ou duas direç es?
Podemos distinguir, por um lado, argumentar, ordenar, prometer, sugerir e pedir, e por outro lado, oferecer, perguntar a alguém se deseja algo, e perguntar "sim" ou "n o"? Se a resposta é concedida, isso requer um segundo ato por parte do protagonista do primeiro ato. Austin afirma ser lugar comum da linguagem com que se expressam as conseqü ncias que isso n o pode ser incluído na parte inicial da aç o.
8. Que diferença observar entre "estar ligado a efeitos" do fato de "produzir efeitos"?
A primeira caracteriza o ato ilocucionário, enquanto que a segunda o ato perlocucionário. Austin diz que temos que distinguir aç es que possuem um objeto perlocucionário (convencer, persuadir) daquelas que simplesmente possuem uma seqüela perlocucionária. Assim, ao dizer "Tentei preveni-lo, mas só consegui alarmá-lo". O objeto perlocucionário de uma ilocuç o pode ser seqüela de outra. Conclui o autor que atos perlocucionários sempre t m seqüelas, mais do que objetos. Posso surpreender alguém por meio de uma locuç o, embora n o existam fórmulas ilocucionárias "Surpreendo-te por ...", "" Perturbo-te por "," Humilho-te por ...."".
9. Que outro traço define um ato perlocucionário?
A resposta ou seqüela que se obtém possa ser conseguida adicionalmente por meios n o-locucionários. Assim, posso intimidar alguém agitando um pedaço de pau ou apontando uma arma de fogo. Os atos perlocucionários podem (importa saber se sempre) obter suas respostas por meios n o convencionais.
10. E relativamente aos ilocucionários?
Austin responde que n o pode haver um ato ilocucionário a menos que os meios utilizados sejam convencionais, e portanto os meios para alcançar os fins de um ato desse tipo em forma n o verbal t m de ser convencionais. Mas é difícil saber onde começam e terminam as convenç es.
1.O que cria maior dificuldade na distinç o entre ilocuç es e perlocuç es?
Temos que separar a aç o que fazemos de sua conseqü ncia. Em geral, se a aç o n o consiste em dizer algo, mas trata-se de uma aç o "física" n o convencional, a quest o complica-se. Austin prop e deixar de lado a noç o de ato físico mínimo, n o teríamos qualquer tipo de designaç o para distinguir atos físicos de suas conseqü ncias.
2.Que ajuda podemos receber da natureza especial dos atos de dizer em contraste com aç es físicas?
Quaisquer que sejam as conseqü ncias naturais e imediatas de um ato de dizer, estas n o s o normalmente outros atos de dizer. Temos aqui uma espécie de ruptura natural da cadeia.
3. Por que n o há um divórcio completo entre aç es "físicas" e atos de dizer algo?
Para realizar um ato ilocucionário é necessário realizar um ato locucionário, por exemplo, agradecer é dizer certas palavras. E dizer certas palavras é necessariamente fazer certos movimentos com os órg os vocais.
4.Pode-se dizer que o ato ilocucionário é uma conseqü ncia do ato locucionário?
Austin preocupa-se em esclarecer que nem mesmo os atos "fáticos" e "réticos" s o conseqü ncia dos atos fonéticos. O que ele introduziu pela nomenclatura da ilocuç o é uma refer ncia, n o s conseqü ncias da locuç o, e sim uma refer ncia s convenç es da força ilocucionária relacionadas com as circunstâncias especiais da ocasi o em que o proferimento é emitido.
5.Como explicar que o ato ilocucionário está relacionado com a produç o de efeitos em certos sentidos?
Se n o alcançar determinado efeito, o ato ilocucionário n o terá sido bem sucedido. A realizaç o de um ato ilocucionário envolve assegurar uma apreens o. Por ex.: n o se pode dizer que Austin preveniu o auditório a menos que este escute o que ele diz e tome isso em um determinado sentido.
6. Que distinç o Austin estabelece entre "tem efeito" de "produzir conseqü ncias"?
Ao dizer :"Batizo este navio com o nome de Queen Elizabeth" tem o efeito de batizar ou dar nome; se certos atos, tais como referir-se ao barco como generalíssimo Stalin, ser o sem cabimento.
7. Por que muitos atos ilocucionários levam a uma resposta ou seqüela que pode ter uma ou duas direç es?
Podemos distinguir, por um lado, argumentar, ordenar, prometer, sugerir e pedir, e por outro lado, oferecer, perguntar a alguém se deseja algo, e perguntar "sim" ou "n o"? Se a resposta é concedida, isso requer um segundo ato por parte do protagonista do primeiro ato. Austin afirma ser lugar comum da linguagem com que se expressam as conseqü ncias que isso n o pode ser incluído na parte inicial da aç o.
8. Que diferença observar entre "estar ligado a efeitos" do fato de "produzir efeitos"?
A primeira caracteriza o ato ilocucionário, enquanto que a segunda o ato perlocucionário. Austin diz que temos que distinguir aç es que possuem um objeto perlocucionário (convencer, persuadir) daquelas que simplesmente possuem uma seqüela perlocucionária. Assim, ao dizer "Tentei preveni-lo, mas só consegui alarmá-lo". O objeto perlocucionário de uma ilocuç o pode ser seqüela de outra. Conclui o autor que atos perlocucionários sempre t m seqüelas, mais do que objetos. Posso surpreender alguém por meio de uma locuç o, embora n o existam fórmulas ilocucionárias "Surpreendo-te por ...", "" Perturbo-te por "," Humilho-te por ...."".
9. Que outro traço define um ato perlocucionário?
A resposta ou seqüela que se obtém possa ser conseguida adicionalmente por meios n o-locucionários. Assim, posso intimidar alguém agitando um pedaço de pau ou apontando uma arma de fogo. Os atos perlocucionários podem (importa saber se sempre) obter suas respostas por meios n o convencionais.
10. E relativamente aos ilocucionários?
Austin responde que n o pode haver um ato ilocucionário a menos que os meios utilizados sejam convencionais, e portanto os meios para alcançar os fins de um ato desse tipo em forma n o verbal t m de ser convencionais. Mas é difícil saber onde começam e terminam as convenç es.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Visão Performativa da Linguagem Ottoni, Paulo
1-Em que cenário e momento históricos podemos situar John Langshaw Austin?
2-Austin fortalece o estudo da linguagem ordinária. Quais são as conseqüências desse estudo na filosofia analítica e suas implicações lingüísticas?
3-Quais outros pensadores procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária?
4-Que conceitos desenvolvidos por Austin sustentarão sua inovadora argumentação? Qual será destacado por Ottoni?
5-Em que a filosofia analítica realizada em Oxford difere da realizada em Cambridge?
6-O que propõe Austin em sua “virada lingüística”?
7-Qual é a peculiaridade das obras “How to do things with words” (HTD) e “Sense and Sensibilia” (S&S)?
8-Que noções, consideradas como monumento filosófico pouco combatido , são questionadas por Austin em seu artigo “Truth” ?
9-Discorra sobre o ato de fala e seu triplo desdobramento.
10-Como a noção de ação é definida por Austin?
11-Explicite a conclusão de Austin de que uma afirmação pode ser um performativo.
12-A partir de que momento pode-se falar de uma “visão performativa” da linguagem?
1-John Langshaw Austin surge no cenário da discussão sobre a linguagem num momento histórico preciso, o cenário é o da discussão sobre a linguagem surgida na Inglaterra pela chamada escola de Oxford e o momento histórico corresponde às décadas de 40 e 50. Na década de 50 despontam os trabalhos de Chomsky e os de Benveniste, além de Foucault, Derrida e Lacan.
2-O trabalho de Austin é chamado de iluminador por Ottoni, pois vai revolucionar não só a filosofia analítica, como vai questionar os postulados da lingüística enquanto ciência autônoma, proporcionando uma gigantesca discussão em torno da filosofia da linguagem. O caminha aberto por Austin é o fortalecimento do estudo da linguagem ordinária. Para Austin, o objetivo da filosofia analítica é estudar o funcionamento da linguagem antes de estabelecer jogos lógicos, modelos ideais que dêem conta de questões filosóficas. Subjacente às reflexões de Austin na análise da linguagem ordinária, pode-se dizer que são os filósofos e os lingüistas que criam dificuldades para o entendimento da linguagem ordinária. O desinteresse por uma linguagem ideal é um dos pontos principais que toca diretamente a um certo tipo de lingüística e de filosofia. Observa-se a partir do estudo de certas dificuldades criadas pela linguagem ordinária que uma palavra não expressa um conceito preciso ou mesmo uma frase não expressa um pensamento claro. A questão do sentido , do significado e da referência, para um certo tipo de lingüística e de filosofia, cria um impasse crucial e, até certo ponto, insolúvel entre algumas teorias da linguagem.
3-A questão do uso foi amplamente discutida por Wittgenstein e isso contribuiu para fortalecer o empreendimento de Austin. Outros filósofos procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária como: Strawson, Ryle e Hare.
4-Austin introduziu os conceitos de performativo, ilocucionário e de ato de fala, conceitos que fundamentarão toda sua argumentação. Tais conceitos são importantes tanto para a filosofia quanto para a lingüística. Ottoni vai privilegiar a noção de performativo como lugar de consolidação da inovadora argumentação austiniana.
5-A filosofia analítica de Oxford difere da realizada em Cambrigde, onde filósofos como Wittgenstein e Russell, chegaram à filosofia através de um longo estudo das ciências e da matemática. Os filósofos de Oxford abordam a filosofia partindo de um profundo estudo das humanidades clássicas (grego, latim). Austin foi o mais importante filósofo no entre e pós- guerra, como Wittgenstein o foi em Cambridge.
6-Austin é um demolidor da filosofia tradicional e também de uma lingüística tradicional. Este rompimento com o passado está evidenciado pela discussão do performativo e do constatativo, do verdadeiro e do falso. Que é o lugar onde se fundem a filosofia e a lingüística. Austin em sua “virada lingüística” propõe uma nova abordagem da linguagem que está próxima de uma “visão performativa da linguagem”. Não há uma preocupação em delimitar fronteiras entre a filosofia e a lingüística. Também não é possível pensar a linguagem humana de forma compartimentada, institucionalizada.
7-A repercussão das idéias após a morte prematura de Austin, através da publicação de S&S e HTD, ambos publicados postumamente em 1962, passou a ser feita de recomposições de anotações de seus alunos e colegas. HTD foi reconstruído por M. Sbisá e Urmson e resulta de 12 palestras proferidas em Harvard em 1955 e de outras durante o curso Words and Deeds, que ele ministrou em 1952 a 1954 em Oxford e também de gravações de duas conferências, uma pela BBC e outra em Gothenberg. O segundo livro, reconstruído por Warnock, é resultado de uma série de anotações feitas em 1948 e 1949 e, ainda, de uma outra série de anotações redigidas em 1955 e em 1958 para o curso na Universidade da Califórnia.
8-As noções de verdade e falsidade (p. 34)
9-Austin cria o ato de fala e o desdobra em três partes, em três atos simultâneos: um ato locucionário, que produz tanto os sons pertencentes a um vocabulário quanto a articulação entre a sintaxe e a semântica, lugar em que se dá a significação nos sentido tradicional; um ato ilocucionário, que é o ato de realização de uma ação através de um enunciado, por exemplo, a promessa, que pode ser realizado por um enunciado que se inicie por eu prometo..., por último, o ato perlocucionário, que é o ato que produz efeito sobre o interlocutor. Através desses três atos, Austin faz a distinção entre sentido e força, já que o ato locucionário é a produção de sentido que se opõe à força do ato ilocucionário; estes dois se distinguem do ato perlocucionário, que é a produção de um efeito sobre o interlocutor.
10- Ação tem um significado muito preciso pelo fato de ser um dos elementos constitutivos da performatividade. A ação é uma atitude independente de uma forma lingüística: o performativo é o próprio ato de realização da fala-ação. Na discussão envolvendo a ação, Austin chamava-a de a “complicada maquinaria interna” (the complicated internal machinery), o que justifica não só a complexidade do conceito como também sua importância.
11-Para entender a quebra de distinção entre o performativo e o constatativo, deve-se voltar e rever o desdobramento dos atos de fala. Os atos ilocucionários são convencionais e possibilitam a existência de enunciados performativos sem que seja possível identificar uma forma gramatical para eles, ou seja, são as regras convencionais que dão condições para que tal enunciado em tal situação seja ou não performativo, realize ou não uma ação. Daí concluir Austin que uma afirmação pode ser um performativo. Pode-se dizer que por detrás de cada afirmação há uma forma não explicitada de um performativo, um performativo mascarado. Em: “Ele é um péssimo indivíduo”, pode ser interpretado dependendo do lugar de várias maneiras: “Eu declaro que ele é um....”; ou “Eu afirmo que ele é ...” Para dar as condições de performatividade para um enunciado, identifica-se um sujeito falante que pratica a ação. Assim, as afirmações não só dizem sobre o mundo como fazem algo no mundo. Não descrevem ações, praticam-na.
12-A partir da quebra de distinção entre constatativo e performativo, cria-se uma nova visão da linguagem, em que o sujeito não pode se desvincular de seu objeto fala e, conseqüentemente, em que não é possível analisar esse objeto desvinculado do sujeito.
2-Austin fortalece o estudo da linguagem ordinária. Quais são as conseqüências desse estudo na filosofia analítica e suas implicações lingüísticas?
3-Quais outros pensadores procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária?
4-Que conceitos desenvolvidos por Austin sustentarão sua inovadora argumentação? Qual será destacado por Ottoni?
5-Em que a filosofia analítica realizada em Oxford difere da realizada em Cambridge?
6-O que propõe Austin em sua “virada lingüística”?
7-Qual é a peculiaridade das obras “How to do things with words” (HTD) e “Sense and Sensibilia” (S&S)?
8-Que noções, consideradas como monumento filosófico pouco combatido , são questionadas por Austin em seu artigo “Truth” ?
9-Discorra sobre o ato de fala e seu triplo desdobramento.
10-Como a noção de ação é definida por Austin?
11-Explicite a conclusão de Austin de que uma afirmação pode ser um performativo.
12-A partir de que momento pode-se falar de uma “visão performativa” da linguagem?
1-John Langshaw Austin surge no cenário da discussão sobre a linguagem num momento histórico preciso, o cenário é o da discussão sobre a linguagem surgida na Inglaterra pela chamada escola de Oxford e o momento histórico corresponde às décadas de 40 e 50. Na década de 50 despontam os trabalhos de Chomsky e os de Benveniste, além de Foucault, Derrida e Lacan.
2-O trabalho de Austin é chamado de iluminador por Ottoni, pois vai revolucionar não só a filosofia analítica, como vai questionar os postulados da lingüística enquanto ciência autônoma, proporcionando uma gigantesca discussão em torno da filosofia da linguagem. O caminha aberto por Austin é o fortalecimento do estudo da linguagem ordinária. Para Austin, o objetivo da filosofia analítica é estudar o funcionamento da linguagem antes de estabelecer jogos lógicos, modelos ideais que dêem conta de questões filosóficas. Subjacente às reflexões de Austin na análise da linguagem ordinária, pode-se dizer que são os filósofos e os lingüistas que criam dificuldades para o entendimento da linguagem ordinária. O desinteresse por uma linguagem ideal é um dos pontos principais que toca diretamente a um certo tipo de lingüística e de filosofia. Observa-se a partir do estudo de certas dificuldades criadas pela linguagem ordinária que uma palavra não expressa um conceito preciso ou mesmo uma frase não expressa um pensamento claro. A questão do sentido , do significado e da referência, para um certo tipo de lingüística e de filosofia, cria um impasse crucial e, até certo ponto, insolúvel entre algumas teorias da linguagem.
3-A questão do uso foi amplamente discutida por Wittgenstein e isso contribuiu para fortalecer o empreendimento de Austin. Outros filósofos procuraram resolver questões filosóficas discutindo a linguagem ordinária como: Strawson, Ryle e Hare.
4-Austin introduziu os conceitos de performativo, ilocucionário e de ato de fala, conceitos que fundamentarão toda sua argumentação. Tais conceitos são importantes tanto para a filosofia quanto para a lingüística. Ottoni vai privilegiar a noção de performativo como lugar de consolidação da inovadora argumentação austiniana.
5-A filosofia analítica de Oxford difere da realizada em Cambrigde, onde filósofos como Wittgenstein e Russell, chegaram à filosofia através de um longo estudo das ciências e da matemática. Os filósofos de Oxford abordam a filosofia partindo de um profundo estudo das humanidades clássicas (grego, latim). Austin foi o mais importante filósofo no entre e pós- guerra, como Wittgenstein o foi em Cambridge.
6-Austin é um demolidor da filosofia tradicional e também de uma lingüística tradicional. Este rompimento com o passado está evidenciado pela discussão do performativo e do constatativo, do verdadeiro e do falso. Que é o lugar onde se fundem a filosofia e a lingüística. Austin em sua “virada lingüística” propõe uma nova abordagem da linguagem que está próxima de uma “visão performativa da linguagem”. Não há uma preocupação em delimitar fronteiras entre a filosofia e a lingüística. Também não é possível pensar a linguagem humana de forma compartimentada, institucionalizada.
7-A repercussão das idéias após a morte prematura de Austin, através da publicação de S&S e HTD, ambos publicados postumamente em 1962, passou a ser feita de recomposições de anotações de seus alunos e colegas. HTD foi reconstruído por M. Sbisá e Urmson e resulta de 12 palestras proferidas em Harvard em 1955 e de outras durante o curso Words and Deeds, que ele ministrou em 1952 a 1954 em Oxford e também de gravações de duas conferências, uma pela BBC e outra em Gothenberg. O segundo livro, reconstruído por Warnock, é resultado de uma série de anotações feitas em 1948 e 1949 e, ainda, de uma outra série de anotações redigidas em 1955 e em 1958 para o curso na Universidade da Califórnia.
8-As noções de verdade e falsidade (p. 34)
9-Austin cria o ato de fala e o desdobra em três partes, em três atos simultâneos: um ato locucionário, que produz tanto os sons pertencentes a um vocabulário quanto a articulação entre a sintaxe e a semântica, lugar em que se dá a significação nos sentido tradicional; um ato ilocucionário, que é o ato de realização de uma ação através de um enunciado, por exemplo, a promessa, que pode ser realizado por um enunciado que se inicie por eu prometo..., por último, o ato perlocucionário, que é o ato que produz efeito sobre o interlocutor. Através desses três atos, Austin faz a distinção entre sentido e força, já que o ato locucionário é a produção de sentido que se opõe à força do ato ilocucionário; estes dois se distinguem do ato perlocucionário, que é a produção de um efeito sobre o interlocutor.
10- Ação tem um significado muito preciso pelo fato de ser um dos elementos constitutivos da performatividade. A ação é uma atitude independente de uma forma lingüística: o performativo é o próprio ato de realização da fala-ação. Na discussão envolvendo a ação, Austin chamava-a de a “complicada maquinaria interna” (the complicated internal machinery), o que justifica não só a complexidade do conceito como também sua importância.
11-Para entender a quebra de distinção entre o performativo e o constatativo, deve-se voltar e rever o desdobramento dos atos de fala. Os atos ilocucionários são convencionais e possibilitam a existência de enunciados performativos sem que seja possível identificar uma forma gramatical para eles, ou seja, são as regras convencionais que dão condições para que tal enunciado em tal situação seja ou não performativo, realize ou não uma ação. Daí concluir Austin que uma afirmação pode ser um performativo. Pode-se dizer que por detrás de cada afirmação há uma forma não explicitada de um performativo, um performativo mascarado. Em: “Ele é um péssimo indivíduo”, pode ser interpretado dependendo do lugar de várias maneiras: “Eu declaro que ele é um....”; ou “Eu afirmo que ele é ...” Para dar as condições de performatividade para um enunciado, identifica-se um sujeito falante que pratica a ação. Assim, as afirmações não só dizem sobre o mundo como fazem algo no mundo. Não descrevem ações, praticam-na.
12-A partir da quebra de distinção entre constatativo e performativo, cria-se uma nova visão da linguagem, em que o sujeito não pode se desvincular de seu objeto fala e, conseqüentemente, em que não é possível analisar esse objeto desvinculado do sujeito.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
VIII CONFERÊNCIA -AUSTIN , “QUANDO DIZER É FAZER” (1990
1-Em seu recuo às questões fundamentais, que distinções preliminares Austin faz?
Austin buscou considerar desde a base em quantos sentidos se pode entender que dizer algo é fazer algo, ou que ao dizer algo estamos fazendo algo, ou mesmo os casos em que por dizer algo fazemos algo.
2-Que denominação o autor dá ao ato de “dizer algo” e que subdivisões apresenta?
Chamou de ato locucionário e distinguiu-o em ato fonético, ato fático e ato rético.
O ato fonético consiste simplesmente na emissão de certos ruídos; o fático, no proferimento de certas palavras consideradas como pertencentes a um vocabulário e a uma gramática. O ato rético consiste na realização do ato de utilizar tais palavras com sentido e referência.
3 . Ao realizarmos um ato fonético, estamos realizando um ato fático e vice-versa?
Na realização de um ato fático realizo um ato fonético, mas o inverso não é verdadeiro, um macaco emite um ruído que se parece com a palavra “vou” e isso não consiste em um ato fático, na explicação de Austin.
4. Que ato realizo ao ler uma sentença em latim ou alemão sem saber o sentido das palavras?
Sentido e referência são realizados ao realizarmos um ato rético, no caso de repetir observações de alguém ou ler uma sentença em latim realizamos um ato fático que não é rético.
5. Para a realização de um ato ilocucionário que determinações são necessárias?
Há inúmeras maneiras de utilizarmos a fala. Faz uma grande diferença saber se estamos perguntando ou respondendo a uma pergunta, dando alguma informação, ou uma advertência, fazendo uma identificação ou descrição.
6. Qual é a nomenclatura utilizada na distinção dos diferentes tipos de função da linguagem?
Força ilocucionária.
7. Depois de distinguir o ato locucionário do ato ilocucionário, que terceiro tipo de ato emerge da reflexão de Austin?
Dizer algo freqüentemente produzirá certos efeitos ou conseqüências sobre os sentimentos ou ações dos ouvintes, ou de quem está falando, tais efeitos decorrem dos atos perlocucionários.
8.Falar de “uso de linguagem” para argumentar ou advertir é o mesmo que falar em uso de linguagem para “persuadir, incitar, alarmar”/?
O primeiro tipo de “uso” pode ser considerado convencional, no sentido de ser possível, pelo menos, explicitá-lo pela fórmula performativa, com o segundo isso não ocorre. Podemos tornar claro o fato de alguém estar argumentando sem tocar na questão de a pessoa estar ou não convencendo alguém. Podemos dizer “argumento que” ou “advirto-o de que”, não podemos dizer “eu convenço você” ou “eu alarmo você.”
Austin buscou considerar desde a base em quantos sentidos se pode entender que dizer algo é fazer algo, ou que ao dizer algo estamos fazendo algo, ou mesmo os casos em que por dizer algo fazemos algo.
2-Que denominação o autor dá ao ato de “dizer algo” e que subdivisões apresenta?
Chamou de ato locucionário e distinguiu-o em ato fonético, ato fático e ato rético.
O ato fonético consiste simplesmente na emissão de certos ruídos; o fático, no proferimento de certas palavras consideradas como pertencentes a um vocabulário e a uma gramática. O ato rético consiste na realização do ato de utilizar tais palavras com sentido e referência.
3 . Ao realizarmos um ato fonético, estamos realizando um ato fático e vice-versa?
Na realização de um ato fático realizo um ato fonético, mas o inverso não é verdadeiro, um macaco emite um ruído que se parece com a palavra “vou” e isso não consiste em um ato fático, na explicação de Austin.
4. Que ato realizo ao ler uma sentença em latim ou alemão sem saber o sentido das palavras?
Sentido e referência são realizados ao realizarmos um ato rético, no caso de repetir observações de alguém ou ler uma sentença em latim realizamos um ato fático que não é rético.
5. Para a realização de um ato ilocucionário que determinações são necessárias?
Há inúmeras maneiras de utilizarmos a fala. Faz uma grande diferença saber se estamos perguntando ou respondendo a uma pergunta, dando alguma informação, ou uma advertência, fazendo uma identificação ou descrição.
6. Qual é a nomenclatura utilizada na distinção dos diferentes tipos de função da linguagem?
Força ilocucionária.
7. Depois de distinguir o ato locucionário do ato ilocucionário, que terceiro tipo de ato emerge da reflexão de Austin?
Dizer algo freqüentemente produzirá certos efeitos ou conseqüências sobre os sentimentos ou ações dos ouvintes, ou de quem está falando, tais efeitos decorrem dos atos perlocucionários.
8.Falar de “uso de linguagem” para argumentar ou advertir é o mesmo que falar em uso de linguagem para “persuadir, incitar, alarmar”/?
O primeiro tipo de “uso” pode ser considerado convencional, no sentido de ser possível, pelo menos, explicitá-lo pela fórmula performativa, com o segundo isso não ocorre. Podemos tornar claro o fato de alguém estar argumentando sem tocar na questão de a pessoa estar ou não convencendo alguém. Podemos dizer “argumento que” ou “advirto-o de que”, não podemos dizer “eu convenço você” ou “eu alarmo você.”
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
VI Conferência de Austin - Performativos Explícitos
1-A que conclusão chegou Austin diante das dificuldades em buscar critérios para definir mais claramente os performativos, uma vez que eles não são tão obviamente distintivos dos constatativos?
Depois de tentar critérios gramaticais ou de vocabulário, ou uma combinação de ambos, Austin conclui pela inexistência de um critério absoluto. Além disso, critérios não serviriam para distinguir performativos dos constatativos, uma vez que é comum que uma mesma sentença seja usada em diferentes ocasiões das duas formas.
2-Mesmo admitindo que parece ser um problema sem solução, que tipo de performativo continua a merecer a preferência do autor?
O performativo do qual ele tirou seus primeiros exemplos (verbo na 1ª pessoa do singular do pres, do indic. da voz ativa, pelo menos em casos em que fazer o proferimento é realizar o ato).
3-Que metodologia sugere para se chegar aos performativos explícitos?
Fazer uma lista de todos os verbos com a peculiaridade de ao dizer fazer um ato.
Supor que todos os proferimentos performativos que não se apresentam na forma privilegiada (“eu x que...”, “eu x a ...”, “eu x...”) podem ser “reduzidos” a essa forma e convertidos em performativos explícitos.
4- Que exemplos são dados para contrastar proferimentos primários e performativos explícitos?
Como exemplo de proferimento primário apresenta “Estarei lá”. E performativo explícito “Prometo que estarei lá” , ou seja, essa forma torna explícita a ação realizada ao se fazer o proferimento. Pois, diante de “Estarei lá”, pode-se perguntar: Trata-se de uma promessa? De uma intenção?
5-Como Austin entende a expressão “tornar explícito”?
Enfatiza que não é o mesmo que descrever ou relatar o que estou fazendo. Dizer “Eu o saúdo” não é descrever meu ato de saudar. Fazer ou dizer tais coisas é tornar claro como o ato deve ser entendido, dizer de que ação se trata.
6- Que suposição o autor faz sobre o performativo explícito do ponto de vista de sua natureza e construção?
Austin dirá que do ponto de vista da evolução da linguagem, o performativo explícito dever ter se desenvolvido posteriormente a certos proferimentos mais primários. Assim, “Eu o farei” é anterior a “Prometo que o farei”. Talvez porque ainda não estivesse tão claro,ou ainda não fosse possível distinguir que coisas poderíamos estar fazendo. “Trovão”em uma linguagem primitiva poderia ser uma advertência, informação, predição etc
7- Quais recursos nos permitem veicular a força dos proferimentos?
Austin diz que a linguagem em si em seus estágios primitivos não é precisa nem explícita, arrolará, então, recursos lingüísticos e outras funções, tais como: o modo; tom de voz, cadência, ênfase; advérbios e expressões adverbiais, partículas conectivas
_ modo: o imperativo “Feche-a” pode ser dito em vários contextos, assim: “Feche-a, faça-o”, assemelha-se a “Aconselho-lhe que a feche”.
“Feche-a, eu o faria”, assemelha-se a “Aconselho-a a fechá-la.”
_ tom de voz, cadência ,ênfase determinarão a diferença entre um aviso, uma pergunta e um protesto na proposição “Vai atacar” (!, ?, !?)
_ advérbios e expressões adverbiais: Eu o farei provavelmente (atenuação) ou sem falta (comprometimento).
_ circunstâncias do proferimento: o contexto pode determinar a interpretação, por exemplo, o nexo entre “morrerei um dia” e “deixarei para você meu relógio”.
8- Que dificuldades o autor apresenta para os recursos acima apresentados?
Embora ricos, eles prestam-se a equívocos. A dificuldade consiste principalmente no fato de ser vago o seu significado e incerto o resultado de sua recepção. Uma mesma fórmula, é, às vezes, um performativo explícito e, às vezes, é descritiva. Pode-se jogar com essa ambivalência: por exemplo, “Aprovo” e “Concordo”. Assim, “Aprovo” pode ter a força performativa de dar aprovação ou pode ter o significado descritivo de “Estou a favor disto.”
9- Que tratamento receberão a “emoção” e o “desejo”?
As emoções e os desejos exibem alguns dos fenômenos incidentais no desenvolvimento das fórmulas performativas explícitas. Uma vez que a emoção e desejo não são facilmente detectáveis pelos demais, é comum que queiramos informar-lhes o que sentimos. Assim, apresenta exemplos de expressões usadas:
Performativos Semidescritivas Relatos
Agradeço Sou grato Sinto-me grato
Peço desculpas Lamento Arrependo-me/
Estou chocado
com/Estou
revoltado com
Critico/censuro Culpo __________
Aprovo Aprovo Sou favorável
Dou-lhe as boas vindas Recebo com prazer ___________
Felicito-o Alegro-me com ___________
Austin denominará os casos vinculados a sentimentos e atitudes de “comportamentais”, destaca, no entanto que expressões convencionais de sentimento não tem nada a ver com os performativos.
Depois de tentar critérios gramaticais ou de vocabulário, ou uma combinação de ambos, Austin conclui pela inexistência de um critério absoluto. Além disso, critérios não serviriam para distinguir performativos dos constatativos, uma vez que é comum que uma mesma sentença seja usada em diferentes ocasiões das duas formas.
2-Mesmo admitindo que parece ser um problema sem solução, que tipo de performativo continua a merecer a preferência do autor?
O performativo do qual ele tirou seus primeiros exemplos (verbo na 1ª pessoa do singular do pres, do indic. da voz ativa, pelo menos em casos em que fazer o proferimento é realizar o ato).
3-Que metodologia sugere para se chegar aos performativos explícitos?
Fazer uma lista de todos os verbos com a peculiaridade de ao dizer fazer um ato.
Supor que todos os proferimentos performativos que não se apresentam na forma privilegiada (“eu x que...”, “eu x a ...”, “eu x...”) podem ser “reduzidos” a essa forma e convertidos em performativos explícitos.
4- Que exemplos são dados para contrastar proferimentos primários e performativos explícitos?
Como exemplo de proferimento primário apresenta “Estarei lá”. E performativo explícito “Prometo que estarei lá” , ou seja, essa forma torna explícita a ação realizada ao se fazer o proferimento. Pois, diante de “Estarei lá”, pode-se perguntar: Trata-se de uma promessa? De uma intenção?
5-Como Austin entende a expressão “tornar explícito”?
Enfatiza que não é o mesmo que descrever ou relatar o que estou fazendo. Dizer “Eu o saúdo” não é descrever meu ato de saudar. Fazer ou dizer tais coisas é tornar claro como o ato deve ser entendido, dizer de que ação se trata.
6- Que suposição o autor faz sobre o performativo explícito do ponto de vista de sua natureza e construção?
Austin dirá que do ponto de vista da evolução da linguagem, o performativo explícito dever ter se desenvolvido posteriormente a certos proferimentos mais primários. Assim, “Eu o farei” é anterior a “Prometo que o farei”. Talvez porque ainda não estivesse tão claro,ou ainda não fosse possível distinguir que coisas poderíamos estar fazendo. “Trovão”em uma linguagem primitiva poderia ser uma advertência, informação, predição etc
7- Quais recursos nos permitem veicular a força dos proferimentos?
Austin diz que a linguagem em si em seus estágios primitivos não é precisa nem explícita, arrolará, então, recursos lingüísticos e outras funções, tais como: o modo; tom de voz, cadência, ênfase; advérbios e expressões adverbiais, partículas conectivas
_ modo: o imperativo “Feche-a” pode ser dito em vários contextos, assim: “Feche-a, faça-o”, assemelha-se a “Aconselho-lhe que a feche”.
“Feche-a, eu o faria”, assemelha-se a “Aconselho-a a fechá-la.”
_ tom de voz, cadência ,ênfase determinarão a diferença entre um aviso, uma pergunta e um protesto na proposição “Vai atacar” (!, ?, !?)
_ advérbios e expressões adverbiais: Eu o farei provavelmente (atenuação) ou sem falta (comprometimento).
_ circunstâncias do proferimento: o contexto pode determinar a interpretação, por exemplo, o nexo entre “morrerei um dia” e “deixarei para você meu relógio”.
8- Que dificuldades o autor apresenta para os recursos acima apresentados?
Embora ricos, eles prestam-se a equívocos. A dificuldade consiste principalmente no fato de ser vago o seu significado e incerto o resultado de sua recepção. Uma mesma fórmula, é, às vezes, um performativo explícito e, às vezes, é descritiva. Pode-se jogar com essa ambivalência: por exemplo, “Aprovo” e “Concordo”. Assim, “Aprovo” pode ter a força performativa de dar aprovação ou pode ter o significado descritivo de “Estou a favor disto.”
9- Que tratamento receberão a “emoção” e o “desejo”?
As emoções e os desejos exibem alguns dos fenômenos incidentais no desenvolvimento das fórmulas performativas explícitas. Uma vez que a emoção e desejo não são facilmente detectáveis pelos demais, é comum que queiramos informar-lhes o que sentimos. Assim, apresenta exemplos de expressões usadas:
Performativos Semidescritivas Relatos
Agradeço Sou grato Sinto-me grato
Peço desculpas Lamento Arrependo-me/
Estou chocado
com/Estou
revoltado com
Critico/censuro Culpo __________
Aprovo Aprovo Sou favorável
Dou-lhe as boas vindas Recebo com prazer ___________
Felicito-o Alegro-me com ___________
Austin denominará os casos vinculados a sentimentos e atitudes de “comportamentais”, destaca, no entanto que expressões convencionais de sentimento não tem nada a ver com os performativos.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
V Conferência
Questões de trabalho
1-Qual foi a temática da confer ncia anterior sobre a qual Austin tece comentários na introduç o da V Conferência?
1-Qual foi a temática da confer ncia anterior sobre a qual Austin tece comentários na introduç o da V Conferência?
2-Austin fortalece a dúvida ou a convicção sobre a diferença entre enunciados constatativos e performativos?
3-Como o pensador formula a grande indagaç o em busca de um critério de maior preciso?
4-Qual é o critério que se destaca na busca austiniana?
5-Que discusso desenvolve sobre o critério verbal, mais especificamente, sobre o presente e o presente contínuo?
6-Que conclusões Austin antecipará ao discutir exemplos de verbos na 2ª e 3ª pessoa e também de verbos na voz passiva?
7-O impasse gerado por inúmeros contra-exemplos levam Austin a desistir da busca por um critério?
8-O que leva Austin a rever sua prefer ncia inicial pela 1ª pessoa do singular no presente do indicativo na voz ativa ?
9-O que Austin proporá metodologicamente?
10-O que acontece quando contrastamos pessoas e tempos do mesmo verbo?
11-Embora se incline pelo critério da 1ª pessoa, que objeções apresentará?
1-Considerou-se o problema das relaç es entre os proferimentos performativos e as declarações de vários tipos que s o verdadeiras ou falsas. Uma certa proximidade foi destacada entre o exemplo performativo "Peço desculpas" e a declaração de que "estou pedindo desculpas". Sinaliza para uma possível anulação da distinção entre constatativos e performativos.
2-Austin oscila sobre distintas posiç es. Primeiramente, fortalece a convicç o de que a distinção é definitiva, voltando idéia de Verdadeiro e Falso, Feliz e Infeliz. Em seguida, fala que talvez o contraste não seja tão seguro, pois a declaração "João está correndo" está relacionada declaração "estou afirmando que João está correndo."1-Considerou-se o problema das relaç es entre os proferimentos performativos e as declarações de vários tipos que s o verdadeiras ou falsas. Uma certa proximidade foi destacada entre o exemplo performativo "Peço desculpas" e a declaração de que "estou pedindo desculpas". Sinaliza para uma possível anulação da distinção entre constatativos e performativos.
3-Austin materializa sua inquietação da seguinte forma: "Há alguma forma precisa para distinguir o proferimento constatativo do performativo?"
4-O pensador indaga sobre a exist ncia de algum critério gramatical (ou lexicográfico) para explicar a distinção.
5-Dirá que é mais comum o "presente" indicar um hábito nos casos em que é realmente indicativo. Quando não é hábito, como no caso do performativo "Batizo", não se trataria de "indicativo" no sentido dado pelos gramáticos, pois o performativo não descreve, nem informa, mas é usado para fazer algo.
6-Ao mostrar que um performativo pode se realizar na 2ª e 3ª pessoas e também pode se realizar na voz passiva, o critério da 1ª pessoa parece sucumbir. Austin dirá então que pessoa e voz não são essenciais. Também o modo e o tempo falham como critérios absolutos.
7-Diante do impasse, dirá que talvez n o seja impossível produzir um critério complexo, ou, pelo menos, um conjunto de critérios levem em consideração tanto a gramática quanto o vocabulário.
8-Dado que o proferimento performativo exige que a expressão consiste na realização de uma ação , tal ação só pode ser realizada por pessoas, pois quem usa a expressão deve realizar ação . Assim, a inclinação para a 1ª pessoa volta a ser destacada. Além disso, quem profere tem que estar fazendo algo, daí a preferência pela voz ativa . Na expressão oral, a pessoa que profere pode ser chamada de "origem do proferimento", na expressão escrita, ao colocar sua assinatura. O "eu" que está realizando a ação entra em cena.
9-Dirá que, metodologicamente, se sente inclinado a dizer que "todo proferimento deveria ser capaz de ser reduzido, expandido ou analisado de modo tal que se obtivesse uma forma na 1ª pessoa do sing. do pres. do indic. da voz "ativa."Fora!" Equivale a "Eu declaro, proclamo ou digo que você está fora do jogo!"
10-Em "Aposto", "Apostei" e "Ele aposta", o segundo e o terceiro exemplos nosso performativos, pois descrevem ação minha e de outro. Ao dizer "Eu aposto" n o afirmo que profiro as palavras, e sim realizo o ato de apostar. Emerge daí a relação de assimetria entre as pessoas.
11-Austin arrolará as seguintes observaç es para responder que n o é um critério muito exato: a) a 1ª pessoa pode ser usada para descrever como me comporto habitualmente ("Aposto – todas as manh s- dez reais"); ("Prometo unicamente quando tenho a intenç o de cumprir com minhas palavras"); b) pode ser usada de modo semelhante ao presente histórico.
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